Em ano de pandemia, setor se mostra resiliente
Embora de forma suave, a pandemia impactou o setor ferroviário de cargas brasileiro e não permitiu a retomada do crescimento que marca as duas décadas e meia de concessão do setor. De fato, 2020 foi um ano atípico — mas as ferrovias se mostraram resilientes. Apesar das dificuldades e limitações impostas pela Covid-19, as associadas da ANTF conseguiram implantar medidas eficazes para garantir a saúde e o bem-estar de seus colaboradores, tanto administrativos quanto operacionais, e sempre de acordo com os protocolos de segurança e saúde da Organização Mundial de Saúde e das autoridades e agências brasileiras.
O volume transportado em 2020 foi de 489 milhões de toneladas úteis (TU), queda de 1% na comparação com a movimentação do ano anterior. Contudo, o dado representa um aumento de 93% em relação a 1997 — época do início das concessões, quando foram movimentadas 253 milhões de toneladas úteis — e um crescimento anual médio de 2,9%.
Produtividade (medida em TKU) praticamente estável
As ferrovias brasileiras também ganharam eficiência no período de concessão, o que pode ser representado pelo crescimento da produção ferroviária, que é calculada pela medida que indica o número de toneladas de carga movimentada a cada quilômetro. Em 2020, foram 365 bilhões de TKU (toneladas por quilômetro útil), uma redução de 0,4% sobre o resultado de 2019 (366 bilhões de TKU). Essa queda do volume total transportado foi pontual — uma quebra da tendência de alta, mas desta vez diretamente associada aos impactos da pandemia sobre diversos setores, que sofrerem igualmente retração, como a indústria siderúrgica e o de combustíveis. Em relação às commodities, no entanto, os números foram dentro do esperado, sem maiores impactos em função da Covid-19.
Na sua série histórica, o setor experimentou sucessivos — e vigorosos, sempre acima do PIB — índices de crescimento, ano a ano. Desde o início das concessões, o crescimento em TKU foi de 166%.
Material rodante
Em 2020, foram investidos R$ 4,8 bilhões, possibilitando um expressivo crescimento na frota de material rodante. Em 1997, as ferrovias contavam com 1.154 locomotivas; em 2020, já somavam 3.298 unidades, representando um aumento de 186%. No mesmo período, o número de vagões passou de 43.816 para 116.435 — alta de 166%.
Redução do Índice de Acidentes
Em 2020 as ferrovias associadas à ANTF apresentaram o menor Índice de Acidentes Ferroviários – IAF de toda a série histórica do setor: redução de 86,41% em relação a 1996, e mantendo, uma vez mais, os altos padrões internacionais de segurança.
Transporte “ecologicamente correto”
Um vagão graneleiro possui capacidade de transportar aproximadamente 100 toneladas de carga, o equivalente a três caminhões graneleiros (com capacidade aproximada de 33 toneladas de carga). As composições das associadas da ANTF atualmente em operação são formadas em sua maioria por 120 vagões, sendo assim capazes de transportar o mesmo volume de cargas de 368 caminhões graneleiros. Isso significa uma redução considerável da emissão de dióxido de carbono.
Geração de empregos diretos e indiretos
O número de empregos no setor (entre diretos e indiretos) cresceu 2.038% desde 1997: passou de 13.506 (naquele ano) para 40.977em 2020.
Participação na Matriz de Transportes
Nesses mais de 25 anos de concessão à iniciativa privada, as ferrovias ampliaram a participação na matriz de transporte de cargas do Brasil — que corresponde hoje, de acordo com o PNL – 2035, a 21,5% de “share”. Mas ainda há espaço para crescer. Veja dados comparativos nos dois gráficos abaixo:
O Brasil ainda apresenta baixa densidade da malha se comparado a países de dimensões continentais, como Canadá, Índia e China, e mesmo diante de seus pares na América Latina, como México e Argentina.
Fonte: Cia World Factbook e ANTF
Para se ter uma ideia da importância das ferrovias na logística, mais de 92% dos minérios chegam aos portos brasileiros pelos trilhos. O modal responde pelo transporte de mais de 46% dos granéis sólidos agrícolas exportados e, no caso do açúcar, esse índice é de 42%.
Intermodalidade
Apesar de o transporte de minério e carvão representar mais de 70% do volume total, as ferrovias têm diversificado suas cargas transportadas. A movimentação de contêineres, por exemplo, tem revelado uma expansão bastante positiva. Desde 1997, a movimentação de contêineres cresceu quase 135 vezes. Em 2020, foram 468 mil TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés) transportados por ferrovias, uma pequena redução, de 0,4%, em relação a 2019 (470 mil TEUs), se considerados os impactos setoriais e as restrições impostas pela pandemia.
Dados internacionais
As ferrovias — um dos meios mecanizados de transporte precursores na movimentação de cargas no mundo — ainda desempenham um papel fundamental na logística mundial. Muitas das principais economias do mundo têm a ferrovia como um dos meios básicos e eficientes de transporte de cargas.
Em 2020 as ferrovias dos Estados Unidos apresentaram uma queda de 12,9% no transporte de cargas em comparação ao ano de 2019, e uma queda de 1,8% no transporte de contêineres, de acordo a Association of American Railroads – AAR. Apenas o setor de carvão apresentou crescimento (1% em relação a 2019). Já os grãos apresentaram queda de 2,9%. A malha ferroviária norte-americana é a maior do mundo, com cerca de 140 mil milhas (aproximadamente 293,56 mil quilômetros).
Com uma representatividade de 81% na matriz de transporte, as ferrovias russas apresentaram em 2020 uma queda de 2,7% em relação da 2019. A redução no transporte de cargas na Rússia foi sentida em outros modais, como rodoviário (queda de 6,2%) e dutoviário (queda de 8,4%), totalizando uma perda de 6% em todo o sistema de transporte de cargas, de acordo com dados da Sea News.
Segundo o China State Railway Group – grupo que operas as ferrovias chinesas –, em publicação do site Global Times, os resultados operacionais das ferrovias chinesas em 2020 foram melhores do que o esperado, especialmente em meio à pandemia: aumento de 4,1% no volume total transportado.
Apesar de a malha brasileira ser pequena frente à malha desses países, as concessionárias de ferrovias de carga têm atingido um elevado ganho de produtividade graças aos investimentos crescentes e contínuos realizados nas duas últimas décadas e meia.
Fontes dados: